sexta-feira, 18 de novembro de 2016

O Processo Kafkiano de Ana Nicolau



Cruzei-me várias vezes com Ana Nicolau mas nunca nos conhecemos. Desses breves encontros guardo lembranças de luta e sonhos que eu perdi. Ana Nicolau transpira nos poros o ativismo por um mundo menos desigual, as suas cordais vocais libertaram várias vezes a lembrança da Revolução, cantando a Grândola de Zeca Afonso, e dos seus plumões ecoaram apelos à justiça pedindo a demissão do primeiro-ministro que personificou os tempos mais austeros de que há memória.
  

Ana Nicolau foi ontem elogiada pelo seu ato de cidadania (em 11 de março de 2015) mas condenada porque esse mesmo ato não podia ser levado a cabo na chamada “Casa da Democracia”. O que me choca no caso de Ana não se prende com a multa que terá de pagar mas sim o ato de punição a que foi sujeita. Foi condenada por se manifestar no local onde o Povo não tem voz.


Pois bem, as leis da injustiça inesperada lembram-nos que nada sabemos da dita democracia que nos apregoam. Nada nos pode surpreender quando nos invadem o quarto ao acordar e nos vemos condenados a um crime sem qualquer justificação. Revemos em Kafka as condenações pela luta dos nossos direitos, por dívidas inexistentes que nos imputam, as falsas promessas de absolvição…


A Democracia não tem casa, Tem lugar, Tem ação. A Democracia acontece quando desfiamos a ditadura nos locais de trabalho, nas escolas, na rua, … A Democracia não tem donos, como a lei que condenou Ana assim o afirma: - “Só aos deputados é permitido terem o comportamento que Ana teve ao pedir a demissão de Passos Coelho” – disse o juiz na sentença.

A condenação de Ana lembra-nos os tempos bafientos do Salazarismo. Se é certo que nos podemos manifestar num café o mesmo já não é verdade para manifestações de rua ou na chamada “Casa da Democracia”. O parlamento não é a casa da democracia é, sim, a casa da proteção do status quo, onde a burguesia instala os seus interesses e onde os direitos são confinados a deputados eleitos por um sistema eleitoral matematicamente injusto. A Assembleia não é da República é da burguesia.


A Democracia não tem casa nem donos mas tem rostos e Ana Nicolau será sempre um desses rostos. Pela Democracia, pela Liberdade je suis Ana Nicolau!

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